Voltar

Transformação digital nos projetos técnicos

felipe

17 de junho de 2025

9 min. de leitura

Aplicar os princípios da transformação digital nos projetos técnicos é uma necessidade para construtoras que desejam aumentar a produtividade, reduzir erros e manter a competitividade. O conceito está diretamente ligado à capacidade de inovar.

Trabalhar com projetos digitalizados, por exemplo, permite integração entre equipes, acesso remoto à documentação e melhor controle sobre versões e revisões. Mas quais são as outras formas de transformar os projetos técnicos de forma eficiente? 

Neste artigo, vamos apresentar os principais pontos de uma estratégia de inovação. Continue a leitura!

Por que digitalizar projetos é essencial?

A construção civil ainda carrega resquícios de processos analógicos. Plantas impressas, revisões feitas manualmente e documentos armazenados fisicamente geram lentidão, retrabalho e falhas de comunicação. A transformação digital elimina essas limitações, oferecendo um ecossistema moderno, ágil e integrado.

A transformação digital nos projetos técnicos torna-se essencial para acompanhar as exigências de clientes, normas técnicas e fiscalizações, além de preparar a empresa para a adoção de tecnologias como BIM (Modelagem da Informação da Construção) e plataformas colaborativas.

Redução de erros operacionais

Ao adotar o uso de projetos em formatos digitais, a empresa reduz a incidência de erros causados por documentos desatualizados ou interpretações equivocadas de plantas manuais. Sistemas digitais garantem que todos trabalhem sempre com a última versão do projeto.

Integração entre setores

A transformação digital nos projetos técnicos permite uma integração mais fluida entre engenharia, orçamento, suprimentos e execução. Com acesso compartilhado e atualização em tempo real, cada setor pode atuar com mais sinergia.

Atende a tendências e normativas do setor

Com a evolução das exigências legais e técnicas, digitalizar torna-se uma obrigação e não mais uma opção. Auditorias e certificações estão cada vez mais baseadas em evidências digitais.

Quais os principais ganhos com a transformação digital?

Transformar digitalmente a sua operação oferece uma série de benefícios práticos e estratégicos, para as empresas e para os profissionais envolvidos. Vamos conhecê-los.

Acesso remoto e simultâneo

Equipes em campo, escritório e clientes podem acessar os mesmos documentos em tempo real, a partir de qualquer local. Isso garante maior velocidade nas tomadas de decisão e evita atrasos.

Histórico de versões

Com projetos digitais, é possível manter o histórico completo de versões, o que facilita a identificação de alterações, autorias e datas. Essa rastreabilidade é fundamental em auditorias e gestão da qualidade.

Agilidade e produtividade

A gestão de documentos eletrônicos (GED) acelera processos internos, reduz burocracias e minimiza o tempo perdido com impressões, transporte de documentos e revisões manuais. Equipes conseguem focar em atividades mais estratégicas.

Melhoria na comunicação

Plataformas digitais centralizam comunicações, anotações e aprovações. Isso evita ruídos de interpretação e garante que todos os envolvidos estejam alinhados.

Sustentabilidade

Reduzir o uso de papel, impressões e deslocamentos também é uma prática alinhada às metas ESG (ambientais, sociais e de governança), cada vez mais exigidas pelo mercado e investidores.

Competitividade e inovação

Construtoras digitalizadas têm mais agilidade para responder a licitações, clientes e mudanças de escopo. Além disso, estão mais preparadas para integrar soluções como realidade aumentada, drones e IoT no canteiro de obras.

Como iniciar o processo de transformação digital?

Inserir os princípios de transformação digital nos projetos técnicos exige planejamento e envolvimento de toda a equipe. A seguir, detalhamos os passos fundamentais.

Mapeie os processos atuais

O primeiro passo é entender como sua empresa trabalha hoje. Identifique como os projetos são elaborados, revisados, armazenados e compartilhados atualmente. Entenda as fragilidades do modelo atual, como duplicidade de documentos, demora em revisões e dificuldade de acesso em campo. 

Um diagnóstico detalhado é essencial para planejar mudanças com foco nos principais gargalos. Converse com os responsáveis de cada setor e levante sugestões de melhoria. Documente esse mapeamento e compartilhe com todos os envolvidos.

Também é importante avaliar as tecnologias já existentes na empresa e como elas podem ser integradas ao processo digital. Às vezes, soluções isoladas já utilizadas por determinados setores podem ser reaproveitadas e escaladas. 

Outra ação relevante é classificar os tipos de documentos que exigem maior atenção no processo, como projetos estruturais, plantas arquitetônicas e relatórios técnicos, estabelecendo prioridades na digitalização.

Escolha um projeto-piloto

Comece com um projeto pequeno, de baixa complexidade, ou com uma equipe receptiva à inovação. Esse piloto permitirá testar ferramentas, avaliar os desafios e coletar feedback dos envolvidos. 

Com os aprendizados desse experimento inicial, será possível aprimorar processos antes de escalar a transformação digital para toda a empresa. Use o projeto-piloto também para identificar indicadores-chave de sucesso, como tempo de resposta, número de revisões e erros evitados.

Durante o piloto, estabeleça marcos claros e cronogramas de acompanhamento. Registre todas as etapas e problemas enfrentados para que possam ser corrigidos e usados como base para os próximos projetos. 

Esse projeto deve servir como vitrine interna para demonstrar os ganhos da transformação digital e incentivar outras equipes a aderirem ao processo.

Digitalize documentos existentes

Converta todos os documentos físicos relevantes — como plantas, relatórios, memoriais descritivos e especificações — para formatos digitais padronizados, como PDF/A, DWG ou IFC. 

Use scanners de alta resolução e, sempre que possível, aplique tecnologia OCR (reconhecimento óptico de caracteres) para tornar os documentos pesquisáveis. 

Organize os arquivos com metadados, como autor, data e fase do projeto. Avalie também se será necessário restaurar ou reformatar documentos antigos para garantir a legibilidade.

Durante esse processo, é fundamental revisar os documentos antes da digitalização, descartando versões desatualizadas ou irrelevantes. A limpeza do acervo físico evita redundâncias e otimiza o armazenamento digital. 

Além disso, estabeleça critérios para priorizar o que deve ser digitalizado primeiro, levando em conta fatores como frequência de uso, importância legal e complexidade técnica.

Defina padrões de nomenclatura e organização

A padronização é crucial para garantir uma gestão documental eficiente. Crie regras claras para nomear arquivos e pastas, com convenções que indiquem tipo de documento, data, versão e autor. 

Defina também uma estrutura de diretórios comum a todos os projetos, o que facilita as buscas e evita duplicidades. 

Elabore um manual de boas práticas e garanta que todos os setores tenham acesso e compreensão dessas diretrizes. A padronização também favorece a integração com sistemas de gestão e automação.

Vale destacar que essa padronização deve ser construída de forma colaborativa, com a participação das equipes que vão utilizar os documentos no dia a dia. 

Isso aumenta a aderência às regras e reduz resistências futuras. Documente essas convenções em um repositório de fácil acesso e promova sessões de reciclagem sempre que houver mudanças ou novas contratações.

Capacite sua equipe

A adesão à transformação digital depende diretamente do engajamento das pessoas. Realize treinamentos sobre as ferramentas escolhidas e promova uma cultura digital, mostrando os benefícios práticos do novo modelo. 

Incentive a troca de experiências entre os colaboradores e mantenha um canal aberto para dúvidas e sugestões. 

Considere nomear "embaixadores digitais" em cada setor para apoiar a implementação. A capacitação não deve ser pontual, mas contínua, com reciclagens periódicas e atualizações conforme novas ferramentas forem adotadas.

Monitore indicadores e evolua continuamente

Após o início da transformação digital, estabeleça indicadores de desempenho, como tempo médio para localizar documentos, número de retrabalhos evitados, ou taxa de adesão aos padrões. 

Use esses dados para promover melhorias contínuas, ajustando ferramentas, processos e políticas conforme a necessidade da empresa. Acompanhe a curva de aprendizado dos colaboradores, identifique gargalos e celebre conquistas para manter o engajamento.

É importante entender que a capacidade de transformar dados em inteligência é uma das principais vantagens da transformação digital e deve ser utilizada para guiar decisões futuras.

Com esses passos estruturados, a transformação digital nos projetos técnicos deixa de ser uma ideia abstrata e passa a se tornar uma realidade concreta, com benefícios mensuráveis para a operação e a estratégia da construtora.

Cuidados com segurança e versionamento

Ao migrar para o digital, é fundamental garantir que os dados estejam protegidos e corretamente gerenciados. Alguns cuidados essenciais para se ter em mente:

  • backups regulares: estabeleça rotinas de backup automático em servidores locais e na nuvem. Isso previne perdas por falhas técnicas ou humanas;
  • controle de acessos: Defina perfis de usuário e restrições de acordo com as funções. Nem todos precisam acessar ou editar todas as informações;
  • versionamento automatizado: utilize sistemas que registram automaticamente cada alteração em arquivos, com histórico de quem modificou e quando;
  • segurança da informação: implemente criptografia, autenticação em dois fatores e outras medidas de proteção contra vazamentos e acessos não autorizados.

Ferramentas e práticas recomendadas

A escolha das ferramentas certas é determinante para o sucesso da transformação digital de obras. Algumas opções consolidadas no mercado:

  • plataformas de gestão de projetos: vão além da simples visualização de plantas. Permitem anotações colaborativas, controle de versões, distribuição padronizada de documentos e integração da comunicação técnica em um único ambiente. As soluções mais completas operam como um CDE (Common Data Environment), centralizando arquivos, registros de revisão, ocorrências, comentários e aprovações. Algumas também oferecem controle de impressões com rastreabilidade por QR-Code, assegurando que todos os envolvidos trabalhem com cópias atualizadas e devidamente registradas.
  • sistemas de GED (Gestão Eletrônica de Documentos): facilitam a organização, busca, versionamento e segurança de arquivos técnicos, além de permitirem fluxos de aprovação e rastreabilidade documental. Embora não ofereçam todos os recursos de um CDE voltado à construção civil, são eficazes em ambientes com estrutura mais enxuta ou com menor necessidade de integração entre disciplinas..
  • nuvem corporativa: Google Workspace, Microsoft 365 e Dropbox Business oferecem armazenamento seguro, controle de acesso (limitado), compartilhamento e integração com aplicativos do dia a dia. Podem ser suficientes para aplicações onde não há exigência de controle formal sobre revisões, aprovações e rastreabilidade.
  • ferramentas de digitalização: Equipamentos de escaneamento com OCR (reconhecimento óptico de caracteres) permitem a indexação de documentos para busca rápida.

Para finalizar, é recomendado ter atenção a esses pontos:

  • estabelecer um manual de padrões e boas práticas para a equipe;
  • realizar auditorias periódicas para revisar a conformidade dos documentos digitais;
  • avaliar o uso de dashboards e indicadores para monitorar a eficiência dos novos processos.

A inserção de ferramentas e práticas de transformação digital nos projetos técnicos é uma ação estratégica, que vai muito além da simples digitalização de documentos. 

Trata-se de uma mudança de cultura, que exige planejamento, envolvimento de pessoas e adoção de ferramentas adequadas. Os benefícios obtidos são concretos: mais agilidade, menos erros, maior segurança e integração entre equipes. 

Pronto para adotar os princípios da transformação digital em seus projetos? Compartilhe suas dúvidas e experiências nos comentários!

Eng. Civil há quase 20 anos com especialização em projetos estruturais. Empreendedor na área de tecnologias para construção civil com ênfase em gestão de projetos e BIM. Pesquisador (Universidade de São Paulo) e autor de artigos científicos internacionais sobre BIM.

Conheça nosso canal no Youtube

Conteúdos que te ajudam a entender melhor o mercado de Engenharia e Arquitetura

Acessar