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Como lidar com revisão de projeto durante a execução da obra

felipe

28 de julho de 2025

10 min. de leitura

Durante a execução de uma obra, é comum que ajustes e mudanças surjam ao longo do caminho. Mesmo com um planejamento detalhado, a realidade do canteiro de obras pode exigir adaptações. Lidar com revisão de projeto, portanto, é uma habilidade fundamental para garantir que os ajustes não comprometam prazos, qualidade e orçamento.

Neste artigo, vamos explorar como as revisões de projetos em obras devem ser organizadas, quais ferramentas podem ajudar no controle de versões e como comunicar as atualizações de forma eficaz para evitar retrabalhos. Entenda os impactos e saiba como gerenciar as alterações de maneira profissional.

Por que revisões são comuns na execução?

A revisão de projetos em obras ocorre por diversos motivos, muitos deles inevitáveis. As mudanças podem ser solicitadas pelo cliente, surgir de incompatibilidades entre disciplinas ou refletir novas exigências técnicas ou legais.

Conheça as principais causas de revisão de projeto:

  • interferências entre projetos estrutural, elétrico e hidrossanitário - geralmente evidenciados com a compatibilização de projetos eficaz;
  • solicitações do cliente por modificações estéticas ou funcionais;
  • descobertas em campo, como problemas de solo ou imprecisões topográficas;
  • necessidade de adaptação a novos materiais ou fornecedores;
  • atualizações em normas e legislações.

Outro cenário comum é quando a empresa contratada por meio de licitação propõe uma reengenharia das soluções originalmente especificadas. Nesses casos, o objetivo costuma ser reduzir custos ou acelerar o cronograma, mantendo-se o atendimento aos requisitos de desempenho estabelecidos em projeto. Essa readequação pode envolver mudanças em materiais, sistemas construtivos ou processos executivos, exigindo validação técnica criteriosa para assegurar que os parâmetros de segurança, durabilidade e funcionalidade não sejam comprometidos.

É importante entender que a revisão não é sinônimo de erro. Na verdade, se trata de um processo natural em projetos complexos. O problema está em como essa revisão é conduzida — quando feita sem um método claro, pode gerar retrabalhos, atrasos e gastos extras.

Outro fator que contribui para a frequência de revisões é a evolução constante das tecnologias e sistemas construtivos. 

Muitas vezes, o projeto é concebido com uma solução que se torna obsoleta antes mesmo da fase de execução, demandando atualizações em campo. Além disso, decisões tomadas durante a fase de projeto podem não se sustentar diante de condições reais inesperadas.

A variação nas condições climáticas ou imprevistos logísticos também exigem alterações no planejamento inicial. 

Um exemplo típico são os atrasos na entrega de determinados insumos, que podem forçar mudanças no cronograma e até no tipo de acabamento previsto. Assim, o profissional da construção precisa estar preparado para adaptar-se continuamente.

Como organizar um fluxo para revisões?

Para lidar com a revisão de projeto de forma eficiente, é essencial organizar um fluxo estruturado. Isso garante que todas as mudanças sejam registradas, avaliadas e comunicadas corretamente, evitando que versões antigas sejam executadas por engano.

Parte fundamental desse processo é o controle de distribuição de documentos — especialmente impressões físicas. Manter a rastreabilidade de quais equipes ou profissionais receberam determinada versão de um projeto é uma exigência recorrente em sistemas de gestão da qualidade, como os baseados na ISO 9001. Esse controle assegura que eventuais inconsistências na execução possam ser rastreadas até a origem documental, além de permitir a substituição formal das cópias desatualizadas sempre que uma nova revisão for emitida.

As etapas recomendadas para um fluxo de revisão são as seguintes:

  • identificação da necessidade de revisão por campo, cliente ou projetista;
  • abertura de um processo formal de revisão com documentação detalhada, incluindo a sinalização para todos os detentores de cópias impressas de que aquele material será substituído;
  • análise técnica das implicações da alteração pelos autores dos projetos das disciplinas direta ou indiretamente impactadas;
  • validação da revisão por profissionais responsáveis;
  • aprovação e registro da nova versão com data, autor e motivo;
  • comunicação formal às equipes envolvidas.

Essa organização evita que o canteiro opere com versões ultrapassadas e permite que cada revisão seja auditável e rastreável. Em obras que utilizam sistemas de gerenciamento de projetos (como plataformas GED ou CDE), recomenda-se atualizar o status do arquivo no fluxo de trabalho para “Bloqueado”. Isso gera alertas automáticos às equipes envolvidas, sinalizando que o documento não deve ser utilizado até a liberação da nova versão.

Uma boa prática é instituir um comitê de revisão com representantes das principais disciplinas (projeto, execução, orçamento, suprimentos). Esse comitê pode revisar e deliberar sobre as solicitações de forma colegiada, promovendo maior segurança e transparência no processo decisório.

O uso de protocolos claros de revisão, como formulários padronizados e fluxogramas visuais, também contribui para maior fluidez.

Além disso, a criação de um banco de lições aprendidas pode ser útil para evitar a repetição de erros em revisões futuras. 

Toda alteração deve ser documentada não apenas quanto à execução, mas também quanto ao aprendizado extraído da situação. Isso promove uma cultura de melhoria contínua dentro do canteiro de obras.

Como manter todos atualizados com a última versão?

O controle de versões em projetos é um dos maiores desafios nas obras. Em um ambiente com diversos documentos e profissionais, garantir que todos estejam utilizando a última versão é crucial.

Confira alguns exemplos de boas práticas para controle de versões:

  • adotar uma plataforma centralizada para armazenamento, compartilhamento e gestão de arquivos. Ferramentas específica para obra oferecem total rastreabilidade das impressões e automações para gestão de revisões;
  • usar nomenclatura padronizada com indicação de versão;
  • no carimbo do projeto, tenha uma seção indicando o históricos de revisão do documento, data de emissão e responsável pela alteração, destacando também a revisão atual (ex.: R04); 
  • restringir permissões de edição e liberar apenas para responsáveis técnicos;
  • comunicar alterações via notificações automáticas ou e-mails oficiais;
  • manter um histórico acessível com versões anteriores para consulta.

A atualização de projeto arquitetônico, por exemplo, deve ser acompanhada de uma comunicação clara para a equipe de campo, evitando interpretações erradas ou aplicação de versões obsoletas.

Além disso, é importante realizar reuniões rápidas de alinhamento (toolbox meetings) sempre que uma revisão significativa for aprovada. Nesses encontros, os pontos críticos são discutidos com a equipe de campo para garantir entendimento total. O uso de quadros de controle visual e etiquetas de revisão também ajuda na identificação da documentação correta. Tecnologias baseadas em QR Codes oferecem a versão digitalizada do carimbo de “Obsoleto - não utilizar”, pois com elas a consulta ao status do documento no ponto de utilização acontece em tempo real.

Também vale destacar a importância da capacitação contínua. Ao treinar as equipes para utilizar os sistemas de controle de documentos e entender os códigos de revisão, minimiza-se o risco de execução equivocada. Investir em uma cultura de atualização constante é tão importante quanto a própria tecnologia.

Qual o papel das plataformas de gestão nesse processo?

O uso de plataformas de gestão digital tem se mostrado fundamental para manter a organização das revisões de projeto. Elas centralizam documentos, registram alterações e facilitam o acesso rápido às versões mais recentes.

Conheça algumas funcionalidades que contribuem para o processo:

  • controle de versão automático com identificação de autores e datas e bloqueio de versões anteriores;
  • compartilhamento com equipes internas e externas em tempo real;
  • checklists de aprovação e liberação de documentos revisados;
  • integração com BIM e GED para vinculação entre modelos e documentos;
  • uso de QR Codes para consulta de status e acesso em campo a documentos atualizados.

A tecnologia reduz o risco de erro humano, elimina dúvidas sobre a versão vigente e agiliza a comunicação entre escritório e canteiro. É um diferencial competitivo na gestão de obras.

Além disso, muitas dessas plataformas oferecem dashboards que permitem o acompanhamento em tempo real das revisões, apontando atrasos, pendências e responsáveis, além de rastreabilidade das impressões, relatórios automatizados de distribuição de documentos controlados e diversas ferramentas para o fluxo de abertura, discussão e conclusão das alterações em projetos. Isso confere à coordenação da obra maior controle e rapidez na tomada de decisões. O armazenamento em nuvem garante que arquivos estejam sempre disponíveis, mesmo fora do escritório.

Outro benefício é a possibilidade de automatizar tarefas repetitivas, como envio de notificações e geração de relatórios de revisão. Isso libera tempo dos gestores para focar em atividades estratégicas. A integração com dispositivos móveis também facilita o trabalho de campo, pois permite consulta imediata aos documentos mais recentes.

Como evitar erros causados por falhas de atualização

Erros comuns em revisão de projeto são geralmente causados por falhas na comunicação e no controle de versões. A boa notícia é que esses erros podem ser evitados com processos claros e ferramentas adequadas.

Conheça os principais e saiba como contorná-los: 

  • impressão de versões antigas: impressões desatualizadas podem gerar retrabalho e comprometimento da qualidade. Para mitigar esse risco, o ideal é reduzir a distribuição de documentos físicos e utilizar QR Codes nos canteiros. Esses códigos direcionam para a versão mais recente do projeto em uma plataforma online, garantindo que a equipe sempre consulte os arquivos atualizados;
  • falta de registro formal: alterações feitas sem documentação deixam brechas para conflitos, dúvidas e ausência de responsabilização. Todas as mudanças devem ser registradas em formulários próprios, com data, justificativa técnica, nome do solicitante e assinatura dos envolvidos. Isso cria uma trilha clara de auditoria e assegura a rastreabilidade das decisões;
  • execução sem confirmação: quando uma alteração é feita, ela deve ser formalmente validada antes de ir a campo. Ignorar essa etapa pode comprometer a compatibilidade entre disciplinas e resultar em perdas financeiras. A recomendação é só liberar a execução após análise e liberação técnica expressa de todos os envolvidos;
  • falha na comunicação entre escritório e campo: a comunicação falha gera ruído, atraso e perda de produtividade. O uso de canais oficiais — como plataformas com notificações integradas — e o compartilhamento de arquivos em tempo real ajudam a manter todos alinhados, mesmo em obras com múltiplos turnos ou localizações distintas;
  • falta de treinamento: uma equipe sem capacitação adequada dificilmente compreende a gravidade de utilizar versões antigas. Investir em treinamentos periódicos sobre leitura de projetos, uso de plataformas digitais e interpretação de revisões é essencial para reduzir erros de execução e fomentar uma cultura de responsabilidade técnica.

A revisão de projeto, quando conduzida com responsabilidade e organização, deixa de ser um risco e passa a ser uma oportunidade de melhoria. Em vez de retrabalhos, causados geralmente pelos erros citados, gera mais precisão e conformidade com as expectativas do cliente.

A importância da cultura organizacional para mitigar erros

Empresas que têm uma cultura forte e valorizam a precisão documental, a comunicação eficiente e o uso da tecnologia, tendem a enfrentar menos problemas com falhas de atualização.

A criação de uma cultura de revisão consciente, com responsabilidade coletiva, é um diferencial para entregas mais seguras e bem-sucedidas.

Além disso, a adoção de auditorias internas regulares pode ajudar a identificar gargalos no processo de atualização. 

Esses diagnósticos são úteis para promover ajustes contínuos e garantir que a gestão de versões acompanhe o dinamismo da obra. Por fim, reconhecer e valorizar boas práticas também estimula o engajamento dos colaboradores nesse processo.

Erros aparentemente simples, como a ausência de carimbo de revisão em pranchas ou a utilização de arquivos duplicados com nomes diferentes, podem ter efeitos desastrosos. 

Essas falhas comprometem a rastreabilidade do processo e tornam a responsabilização mais difícil em casos de não conformidade.

É fundamental, portanto, que a empresa tenha protocolos específicos para revisões emergenciais, diferenciando-as das revisões planejadas. 

As emergenciais, por sua natureza, exigem rapidez sem sacrificar a documentação mínima necessária. Já as revisões planejadas devem seguir rigorosamente o fluxo completo de validação e registro. Com essa distinção clara, ganha-se agilidade sem abrir mão do controle.

Agora que você sabe o que é uma revisão de projeto, já deu para entender que ela é imprescindível para prevenir falhas, evitar retrabalhos e garantir que as soluções técnicas estejam alinhadas aos objetivos da obra. Esse cuidado contribui diretamente para o cumprimento de prazos, orçamentos e padrões de qualidade exigidos em um projeto arquitetônico.

Quer aprofundar seu entendimento sobre esse e outros temas relacionados à coordenação de projetos? Então, continue acompanhando os conteúdos do blog!

Eng. Civil há quase 20 anos com especialização em projetos estruturais. Empreendedor na área de tecnologias para construção civil com ênfase em gestão de projetos e BIM. Pesquisador (Universidade de São Paulo) e autor de artigos científicos internacionais sobre BIM.

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