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Como a tecnologia BIM integra equipes de projeto e obra

felipe

17 de junho de 2025

9 min. de leitura

A metodologia BIM tem revolucionado a forma como projetistas, engenheiros e construtores trabalham em conjunto na construção civil. Muito além de um simples modelador 3D, o BIM (Building Information Modeling) promove a integração entre diferentes equipes e etapas de um empreendimento, consolidando-se como um processo estratégico para o setor.

Neste artigo, exploramos como o BIM, na prática da construção civil, vai além da visualização de maquetes digitais e se transforma em uma abordagem robusta para a gestão segura e coordenada de obras. Os softwares compatíveis com a metodologia BIM apoiam a integração entre  equipes, permitem a detecção antecipada de interferências e otimizam o fluxo de informações em todas as fases do projeto.

O que é BIM e como funciona?

O BIM, sigla para Building Information Modeling, pode ser traduzido como Modelagem da Informação da Construção. Trata-se de uma metodologia baseada em modelos digitais tridimensionais que agregam dados inteligentes sobre cada componente da edificação — como materiais, dimensões, propriedades térmicas, custos, cronograma e manutenção.

Ao contrário das ferramentas CAD tradicionais, que apesar de permitirem modelagem em 3D não integram dados relacionados a componentes do projeto, as ferramentas de modelagem BIM possibilitam a criação de modelos digitais integrados e parametrizados, nos quais cada elemento está associado a informações específicas, como materiais, desempenho e custos.

Isso significa que qualquer modificação feita em um ponto do modelo se reflete automaticamente nas demais áreas relacionadas, aumentando a consistência e reduzindo erros.

Mais do que um modelo visual, o BIM atua como uma plataforma de integração multidisciplinar, conectando arquitetos, engenheiros, consultores, empreiteiros e clientes em um mesmo ecossistema colaborativo.

Como o BIM favorece a colaboração?

Um dos maiores diferenciais da metodologia BIM está em sua capacidade de promover a integração de  equipes de forma horizontal e transparente. 

Em vez de trabalhar de maneira compartimentada - com trocas de e-mails, revisões manuais e versões conflitantes de arquivos -, os envolvidos no projeto passam a trabalhar a partir de um modelo federado único, atualizado em tempo real e acessível conforme os níveis de permissão definidos para cada disciplina.

Essa mudança favorece decisões conjuntas e multidisciplinares, promovendo a colaboração entre diferentes especialidades desde as fases iniciais do empreendimento. Veja como essa colaboração se concretiza na prática:

  • permite que arquitetos visualizem o impacto imediato de suas soluções sobre elementos estruturais e sistemas complementares;
  • possibilita que engenheiros elétricos e hidráulicos detectem interferências antes da execução, evitando retrabalhos no canteiro;
  • fornece a coordenadores de obra dados confiáveis para estimativas de prazo, custo e alocação de recursos;
  • viabiliza a participação de consultores e fornecedores no processo decisório, a partir do acesso controlado ao modelo digital;
  • facilita a validação por clientes e órgãos públicosl com visualizações mais claras e atualizadas, acelerando aprovações;
  • centraliza a comunicação em uma plataforma única, reduzindo ruídos, retrabalho e mal-entendidos;
  • permite rastrear ações por usuário (quem fez o quê e quando), garantindo responsabilidade, controle de versões e rastreabilidade.

Além disso, a divisão do modelo em disciplinas distintas — como arquitetura, estruturas e instalações — permite que cada equipe trabalhe de forma coordenada sobre sua parte específica do projeto, reduzindo o risco de sobreposição de informações ou alterações não autorizadas. 

O registro de histórico de alterações — recurso comum em softwares de modelagem e ambientes CDE — contribui diretamente para a gestão de mudanças e para a documentação auditável do processo.

Capacidade de integração

Outro diferencial do BIM está na possibilidade de integração com plataformas de comunicação, planejamento e gestão, como CRMs, ERPs e sistemas de cronograma físico-financeiro. Essa interoperabilidade, quando viabilizada por padrões como o IFC e por APIs específicas, permite automatizar o fluxo de tarefas, gerar alertas de atualização e garantir o acesso remoto a informações em tempo real — sempre respeitando as permissões e a governança do projeto.

Essa colaboração orientada por dados não apenas acelera o desenvolvimento dos projetos, como também fortalece a confiança entre as equipes envolvidas. 

Com menos retrabalho, maior previsibilidade e clareza nas informações, o uso consistente da metodologia BIM contribui para uma transformação gradual da cultura de trabalho no setor da construção civil — de um modelo reativo e compartimentado  para uma abordagem mais colaborativa, proativa e integrada.

Principais usos do BIM durante a obra

Durante a fase de execução da obra, o uso estruturado do BIM também se mostra um aliado valioso, indo muito além da fase de projeto. Há tecnologias que permitem a integração entre o modelo BIM e o cronograma de planejamento (4D),, incorporação de  custos assim como dados de operação e manutenção dos ativos, ampliando o leque de aplicações práticas e proporcionando gestão integrada em tempo real.

  • planejamento de obra (4D): associando elementos do projeto a atividades do cronograma, é possível simular digitalmente  o andamento da construção ao longo do tempo, identificar gargalos, prever impactos e testar diferentes cenários para aumentar a eficiência da programação;
  • orçamentação (5D): a extração semi automatizada de quantitativos e insumos a partir do modelo BIM reduz significativamente erros de cálculo e inconsistências, permitindo ajustes rápidos quando há alterações de projeto;
  • simulações de segurança: ao simular a execução em etapas, o BIM possibilita identificar riscos com antecedência, planejar rotas de fuga, dimensionar áreas de circulação e adotar medidas preventivas antes do início da atividade crítica;
  • controle de qualidade: com a integração de sensores, drones e ferramentas de campo, o modelo BIM é atualizado com dados reais da obra, o que facilita monitoramento em tempo real e a comparação com o planejado;
  • gestão de materiais e logística: a coordenação entre o cronograma 4D e as entregas permite a chegada dos materiais exatamente quando são necessários, reduzindo estoques no canteiro, melhorando o fluxo e otimizando o uso do espaço físico.

O uso de dispositivos móveis no canteiro facilita o acesso ao modelo por operários e encarregados, garantindo que todos trabalhem com as informações mais atualizadas. 

A interoperabilidade entre softwares BIM e sistemas ERP oferece uma visão integrada da obra, da engenharia à contabilidade, passando ainda pelo planejamento físico-financeiro.

Com o apoio de tecnologias complementares, como realidade aumentada e realidade virtual, é possível realizar treinamentos imersivos, simulações de montagem e inspeções assistidas por sobreposição digital. Tudo isso amplia a precisão e a eficiência das operações no campo.

Esses benefícios tornam o BIM uma plataforma de gestão inteligente e conectada, capaz de transformar o canteiro em um ambiente digitalizado. Assim, você terá mais previsibilidade e controle em seus projetos e na execução da obra. 

BIM e a compatibilização de projetos

Entre as aplicações mais relevantes do BIM está a compatibilização de projetos. Um dos grandes desafios na construção civil é a sobreposição de disciplinas (estrutural, elétrica, hidráulica, climatização etc.) que muitas vezes geram conflitos físicos e técnicos durante a execução da obra.

No modelo tradicional, esses problemas só aparecem no canteiro, resultando em retrabalho, desperdício de material e atraso no cronograma. Com o uso do BIM, é possível realizar uma detecção automática de interferências (clash detection) já na fase de projeto.

Essa análise prévia permite resolver conflitos entre dutos e vigas, paredes e lajes, shafts e acabamentos, antes que eles ocorram na prática. 

O ganho é significativo: estudos indicam que o uso do BIM pode reduzir os custos de retrabalho em até 17%, ao prevenir aproximadamente metade das interferências que normalmente só seriam descobertas em campo.

O modelo também facilita a validação por parte dos clientes e órgãos reguladores, oferecendo visualizações claras e precisas da edificação como um todo. A tecnologia BIM, nesse contexto, se consolida como um mediador entre expectativas, viabilidade técnica e execução eficiente.

Além disso, a compatibilização em BIM favorece a tomada de decisões colaborativas. Com a centralização das informações em um modelo tridimensional inteligente, diferentes equipes conseguem visualizar em tempo real o impacto de alterações em suas respectivas áreas. 

Tudo isso promove uma comunicação mais eficaz entre arquitetos, engenheiros e consultores, evitando retrabalhos e promovendo maior integração entre os profissionais. Outro ponto relevante é a possibilidade de simular cenários e testar alternativas construtivas com base em dados reais, o que contribui para soluções mais precisas e projetos mais otimizados.

Resultados reais com a implementação do BIM

A adoção da tecnologia BIM tem crescido de forma consistente no Brasil e no mundo. No site da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), são apresentados diversos casos de sucesso que mostram como o BIM já está consolidado como aliado da inovação na construção.

  • no projeto do novo Terminal de Passageiros do Aeroporto de Florianópolis (SC), o uso intensivo do BIM desde a fase inicial permitiu encurtar prazos, prever conflitos e ajustar a execução com mais precisão. Houve alinhamento constante entre projetistas, construtora e órgãos de fiscalização;
  • no Hospital da Unimed em Fortaleza, a adoção de ferramentas BIM resultou em uma redução de 15% no tempo de obra e em economia significativa de materiais, além de maior controle sobre os sistemas prediais;
  • na Concremat Engenharia, o BIM trouxe ganhos em projetos de infraestrutura, como rodovias e estações metroviárias, com mais precisão no planejamento, melhor comunicação com o cliente e gestão de mudanças com impacto reduzido.

Esses exemplos mostram que a integração promovida pelo BIM não é uma promessa futura, mas sim uma realidade comprovada por resultados concretos. Empresas que investem em capacitação e adoção estratégica da metodologia têm conseguido melhorar a produtividade, qualidade e previsibilidade de seus projetos.

A metodologia BIM vai muito além da modelagem 3D: ela integra equipes, reduz falhas de comunicação e garante projetos mais colaborativos e eficientes. Com o BIM na construção civil, as empresas atingem novos níveis de produtividade, segurança e inovação.

Se a sua empresa ainda não utiliza o BIM, este é o momento ideal para iniciar essa transformação. Comece pela capacitação da equipe técnica, escolha ferramentas compatíveis com sua realidade e, sempre que possível, conte com o apoio de especialistas em coordenação de projetos. A curva de aprendizagem é compensada rapidamente pelos ganhos em controle e eficiência. 

Quer dar o próximo passo rumo à digitalização da sua gestão de obras? No blog Coordenando Projetos, você encontra conteúdos atualizados e orientações práticas para aplicar o BIM com estratégia.

Eng. Civil há quase 20 anos com especialização em projetos estruturais. Empreendedor na área de tecnologias para construção civil com ênfase em gestão de projetos e BIM. Pesquisador (Universidade de São Paulo) e autor de artigos científicos internacionais sobre BIM.

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